SUBSTITUIÇÃO DE PROFESSORES


Para garantir uma boa substituição
As condições para que o professor eventual realize o melhor trabalho possível na falta do titular

Hora da entrada. Os alunos estão chegando à escola quando a coordenação pedagógica recebe o telefonema de um professor, avisando que não poderá trabalhar naquele dia. O que fazer? Deixar as crianças no pátio? Mandá-las de volta para casa? Geralmente, as escolas têm à disposição um professor substituto (também chamado de eventual) para ficar com a turma. E ele, avisado de última hora, sabe o que
deve fazer?

Silmar dos Santos, mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autora da pesquisa As Faltas de Professores e a Organização de Escolas na Rede Municipal de São Paulo, constatou que as soluções mais frequentes usadas pelas escolas para cobrir as ausências são: utilizar professores eventuais, distribuir a turma pelas classes da mesma série, deixar os alunos em outros espaços da escola sem professor ou mesmo na sala, mas sem ninguém para conduzir um trabalho (a chamada aula vaga), e dispensar os alunos - essa última, a pior das soluções (leia no quadro abaixo por que isso não deve ser feito em caso de falta de professor).

Numa escola bem gerida, o substituto - em vez de ficar distraindo as crianças para que o tempo passe rapidamente - pega um plano de aula previamente preparado pelo titular da turma e, com ele em mãos, organiza os alunos e conduz uma atividade complementar ao conteúdo que está sendo estudado.

Ter um banco de atividades extras para ser usadas em situações emergenciais é uma das ações eficientes que diretor e coordenador pedagógico podem implementar, assim como integrar os eventuais aos momentos de formação da escola. Nesta reportagem, você vai conhecer quatro iniciativas da equipe gestora que criam condições para que o substituto cubra de forma eficiente a ausência de um colega.

Em algumas redes, como a estadual de São Paulo, os eventuais não ficam na escola nem na Secretaria. Eles são contratados diretamente pelo diretor ou coordenador conforme a necessidade e ganham por dia ou hora trabalhada. Em geral, os próprios eventuais procuram as escolas mais próximas de sua casa e se colocam à disposição para ser chamados a qualquer hora. Nesses casos, os gestores preparam uma lista de bons profissionais e, na escola, têm planos de aula prontos
para usar.

Outras redes contam com a presença de substitutos diariamente na escola, faltando ou não professor. A EMEF João Belchior Marques Goulart, em São Leopoldo, município da Grande Porto Alegre, conta com dois por turno e o arquivo de atividades é periodicamente atualizado. E se faltarem mais de dois educadores? "Tanto a bibliotecária como a responsável pela sala de informática - ambas pedagogas - estão preparadas para entrar em sala de aula, pois também participam da formação de professores e têm acesso ao banco de planos de aula", conta Cláudia Maragno, coordenadora pedagógica da unidade.

A interação entre substituto e titular tem de ser constante durante o ano. Mas a troca se torna mais necessária quando as ausências são longas - por causa de licença-maternidade ou permissão para fazer um tratamento médico, por exemplo. É importante que o profissional que vai cobrir o colega conheça as características da turma, entenda o que já foi planejado para o período de substituição, saiba como os projetos estão avançando e tenha acesso aos registros dos alunos. Tudo isso para garantir que não haja a ruptura durante a transição do trabalho de um docente para outro. O mesmo deve ser feito no retorno ao trabalho de quem tirou licença: as aulas dadas pelo professor eventual têm de ser registradas.
Faltas não podem prejudicar a aprendizagem dos alunos

Como qualquer profissional, o docente pode ser surpreendido por algum acontecimento inesperado que o faça perder um dia de trabalho. Diversas pesquisas mostram que o principal motivo do não-comparecimento são os problemas de saúde. Além disso, em diversos estados e municípios, a legislação permite certo número de faltas abonadas, ou seja, ausentar-se sem justificativa. Em algumas redes - como a municipal de São Paulo e a estadual do Rio Grande do Sul -, é possível ter até dez abonos por ano. Roberta Panico, consultora de NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR, propõe um problema para compreender a gravidade da situação: se em cada ano da primeira etapa do Ensino Fundamental o professor regente usar apenas as faltas a que tem direito (sem contar as por doença dele ou do filho ou outro motivo justificável) sem ser substituído adequadamente, ao fim do 5º ano ele teria perdido 50 dias de aula, o equivalente a dois meses e meio.

Absurdos como esse não podem acontecer. Daí a importância de a escola se organizar para os gestores não serem pegos de surpresa e as ausências não comprometerem a aprendizagem.

ACERVO DE AULAS
Adriana, de São Leopoldo, RS, escolhe
atividades extras antes de entrar em sal

Quatro iniciativas para criar condições para que os professores substitutos realizem o melhor trabalho possível na ausência dos titulares



1 Manter um banco de atividades extras atualizado
O que é
Arquivo disponível aos docentes, com planos de aula preparados por todos os professores da escola, com atividades complementares ao conteúdo que é trabalhado com a turma em cada disciplina e durante determinado período.

Como organizar
O coordenador pedagógico deve solicitar a todos da equipe docente que preparem atividades extras para cada um dos conteúdos que serão ensinados no bimestre, trimestre ou semestre. Como elas serão usadas por outro profissional que não necessariamente segue a turma de perto, é importante que o titular inclua no documento a contextualização de cada proposta e deixe claros os objetivos. A melhor maneira de disponibilizar o material é mantê-lo em pastas ou arquivos, em armário que deve ficar sempre aberto, na sala dos professores ou da coordenação, para ser consultado quando necessário.
RELATOS COMPLETOS
Maria Betânia, de Natal, estuda os diários
dos titulares e os registros dos alunos
2 Manter um arquivo de registros
O que é
Um banco de documentos pedagógicos (o planejamento dos professores, os diagnósticos iniciais de cada turma, os relatórios e os portfólios dos alunos). O objetivo é subsidiar o eventual na compreensão da sequência didática planejada pelo colega para que ele saiba exatamente de que ponto deverá dar continuidade ao trabalho.

Como organizar
Os professores devem arquivar os planos de aula e as anotações de observações feitas em sala. O material fica disponível na escola (e não trancado nas gavetas do professor). O ideal é o coordenador pedagógico reservar um espaço para as pastas ou os cadernos, identificados com o nome do professor da turma.

Onde é feito
Na EM Professor Ascendino Henrique de Almeida Júnior, em Natal, os regentes de turma fazem um diário, no qual colocam o planejamento inicial, o registro das atividades, os passos seguintes da sequência que está sendo trabalhada e as interações entre os alunos e entre eles e o conteúdo. "Também fazemos o nosso diário", conta Maria Betânia de Moura, uma das oito eventuais com as quais a escola conta. A diretora, Tereza Cristina Almeida Bezerra, afirma que os temporários são praticamente regentes, pois participam de toda a rotina da Ascendino. No arquivo preparado pela equipe gestora também estão o diagnóstico inicial e os relatórios semanais.
SEMPRE EM SALA
Katarina (à direita), de São Paulo, auxilia
a regente quando não está substituindo
3 Alocar o eventual como auxiliar em sala de aula
O que é
Modelo em que os substitutos permanecem na escola durante todo o período de aula e são convidados a atuar como assistentes dos titulares.

Como organizar
A rotina da escola deve prever que o eventual assuma o papel de auxiliar dos titulares. Em muitas unidades, quando não estão substituindo, eles são convocados para realizar tarefas burocráticas ou outra que não sejam da competência dele. Por isso, é preciso que a equipe gestora tenha consciência da importância desse profissional na garantia da continuidade do processo de ensino e aprendizagem - e não somente como um tapa-buraco. Ele pode ser alocado em uma única turma ou revezar-se nas salas conforme a necessidade. Dessa forma, o substituto se aproxima dos alunos e tem a oportunidade de se desenvolver pedagogicamente.

Onde é feito
Na EMEI Antonio Callado, na capital paulista, existem quatro substitutos, chamados professores de módulo. Eles são concursados e ficam fixos na escola, atuando como auxiliares do professor da turma. Katarina Leite, por exemplo, passou cinco meses apoiando duas salas com crianças de 3 e 4 anos. No início do ano, essas eram as turmas com maior demanda por causa do período de adaptação dos pequenos. "Aprendi muito observando a professora e isso me deu autonomia", conta.
4. Garantir a participação dos eventuais em encontros de formação
O que é
Garantir a presença dos professores eventuais nas reuniões de planejamento, nos encontros pedagógicos e na formação em serviço.

Como organizar
Geralmente, o eventual tem regime de trabalho e carga horária diferentes dos demais professores da escola. Por isso, o coordenador pedagógico precisa ficar atento à disponibilidade e aos horários dos substitutos para que eles consigam participar das reuniões de equipe. Em algumas redes, os eventuais são alunos de graduação ou profissionais recém-formados e, portanto, a oportunidade de participar da formação em serviço é fundamental para que a substituição garanta a continuidade do aprendizado.

Onde é feito
NA EM Luiz Gonzaga Ayroso, em Jaraguá do Sul, a 182 quilômetros de Florianópolis, Mara Luciana Kamschen Silva trabalha como substituta em duas turmas de 4º ano, uma de manhã e outra à tarde. Apesar de ter sido admitida em caráter temporário (ACT), ela participa de todos os momentos de planejamento, das reuniões pedagógicas e dos Conselhos de Classe. "Sempre me senti parte da equipe permanente por ter as mesmas oportunidades de participar das formações em serviço", conta. Mara trabalha como temporária há 18 anos e mesmo quando atuou em escolas diferentes, numa de manhã e noutra à tarde, conseguiu fazer com que os gestores adequassem o horário das reuniões à sua agenda.
Os erros mais comuns
Na falta de professores, evite:
 

- Dispensar os alunos
Além de os estudantes ficarem sem aula, essa medida causa problemas aos pais, que podem não ter como buscar os filhos antes do horário previsto.

- Institucionalizar a aula vaga
Alunos ociosos conversam e fazem brincadeiras que certamente atrapalham a aula de outros professores. 

- Distribuir os estudantes por outras classes
As diversas turmas de uma mesma série não têm, necessariamente, contato com os conteúdos ao mesmo tempo. Por isso, pode haver diferença entre o planejamento dos professores. Além disso, a classe que recebe os alunos ficará superlotada e isso prejudica a aprendizagem. 

- Trocar as disciplinas do eventual
Se o professor de Língua Portuguesa faltar e o profissional disponível para substituí-lo for de Matemática, a melhor solução é pedir a ele para dar uma aula da própria disciplina, adiantando uma já prevista e, assim, evitando improvisos e conteúdos mal trabalhados.
Como acabar com a falta dos professores
Rotina em muitas escolas, o absenteísmo afeta o projeto pedagógico. Saiba como minimizar o problema
Gustavo Heidrich (gestao@atleitor.com.br)
Foto: Jeff Cadge/Gettyimages
Foto: Jeff Cadge/Gettyimages
Mais sobre Gestão da Equipe
Reportagens
Correndo até a sala do diretor, a coordenadora pedagógica traz a má notícia. Mais uma vez, sem avisar, dois professores faltaram. Mais de 60 alunos estão largados nas salas de aula. O problema, que deveria ser uma exceção, faz parte da rotina das escolas brasileiras e é um dos desafios que o gestor tem de enfrentar para evitar atrasos na aprendizagem. Mas como impedir que o absenteísmo comprometa o projeto pedagógico e atrapalhe os alunos? Nesta reportagem, você vai descobrir que a resposta está em dois pontos cruciais para uma boa administração escolar: no planejamento e em uma eficiente gestão de pessoas - que inclui muita conversa com os faltosos para reduzir as ausências (veja no quadro abaixo sete dicas práticas para conduzir a conversa com os docentes que mais faltam).

Na rede estadual de São Paulo, a maior do país, com 5.463 escolas, todo dia 12 mil professores faltam, em média (a rede possui 189 mil docentes). Na tentativa de mensurar o impacto desse problema, Priscilla Tavares, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo, elaborou o estudo A Falta Faz Falta?, no qual avaliou os prejuízos causados pelo absenteísmo no desempenho em Matemática de alunos da 4ª série da rede paulista. "A situação é preocupante porque, a cada duas ausências de um titular, os alunos perdem 0,14 ponto na prova do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, o Saresp", afirma a pesquisadora.

Os altos índices de absenteísmo não são exclusivos da rede paulista. A rede estadual fluminense concedeu, em agosto de 2009, 6 mil licenças, e a do Distrito Federal contabilizou mais de 340 mil faltas no primeiro semestre de 2009. No Rio Grande do Sul, onde são permitidas até dez faltas sem justificativa, mais de 46 mil licenças foram tiradas entre janeiro e outubro de 2009 (para o total de 79 mil professores). Em Alagoas, uma das soluções encontradas foi a contratação de 6 mil monitores universitários para substituir os professores de carreira que não aparecem.

Refém de legislações - que em diversos estados e municípios oficializam as faltas - e de uma realidade educacional na qual é regra a carga horária inchada para compensar os baixos salários dos docentes, o diretor precisa enfrentar esse problema. O primeiro passo é conversar com o professor para saber o motivo de tantas faltas. A justificativa número um é a saúde. Diversas pesquisas comprovam a vulnerabilidade dos docentes a moléstias relacionadas ao uso da voz e ao estresse mental e físico, manifestado em dores musculares e de cabeça e na chamada síndrome de burnout (esgotamento físico e mental ligado à vida profissional). Estudo realizado pelo Ibope e pela Fundação Victor Civita em 2007 com 500 professores da rede pública de capitais mostrou que 40% deles afirmam sofrer com doenças. Nesses casos, o diretor deve avaliar os atestados médicos antes de abonar as faltas e, quando possível, negociar para que as consultas não prejudiquem o andamento das aulas.

Diversas outras razões pessoais, como questões familiares, falta de tempo para resolver problemas cotidianos e o desencantamento com a profissão, são usadas como justificativa. Nesses casos, o gestor deve mostrar os prejuízos causados pelas faltas e buscar soluções em conjunto com cada docente. Essa é uma etapa importante, na qual é fundamental equilibrar a compreensão dos problemas dos professores - sem se tornar cúmplice - e a firmeza para estabelecer rotinas que reduzam as ausências.
Pauta da reunião
Hora de conversar
Agnelson Correali, consultor de Relações Humanas, afirma que a conversa entre o gestor e o professor que falta é essencial para solucionar o absenteísmo. Veja sete passos importantes para que essa conversa seja produtiva.

1 Em particular, chame o professor para conversar. Desde o princípio, estabeleça que o objetivo é encontrar soluções para as faltas recorrentes e enfatize que ele é um profissional importante para a equipe e para o projeto educacional da escola. Procure não ser agressivo e tenha uma atitude compreensiva.

2 Durante a conversa, apresente dados e fatos, como registros que comprovem as faltas (folhas de ponto), e explique o prejuízo que elas causam ao desempenho dos alunos (mostrando os resultados do bimestre, as avaliações dos alunos e as taxas de reprovação). Demonstre também que você está atento, relatando ocasiões em que observou a ausência dele.

3 Peça uma explicação para as faltas.

4 Faça as perguntas necessárias até que estejam claras as razões das ausências. Em seguida, coloque-se à disposição para ajudar.

5 Encontre, em parceria com o professor, alternativas para cessar as faltas ou
minimizá-las e caminhos para que ele possase sentir novamente motivado a trabalhar.

6 Procure sair da reunião com alguns acordos firmados com o docente.

7 Encerre a conversa reafirmando mais uma vez a importância do professor para você, para a equipe e para a escola.
Use a criatividade para driblar as faltas, mas não dispense o aluno

Algumas faltas, porém, sempre existirão. E os estudantes não podem ser prejudicados. Aí entra o planejamento. Quando há tempo, a primeira opção é convocar um professor substituto. Mas, se esse profissional não está disponível, o mais comum é distribuir os alunos em outras turmas, deixar um docente responsável por mais de um grupo, delegar a responsabilidade para funcionários de apoio ou criar atividades na sala de leitura, informática ou na quadra de esportes. "A pior opção é dispensar os alunos ou adotar a aula vaga, quando os estudantes ficam esperando o próximo professor", diz Silmar dos Santos, mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autora da pesquisa As Faltas de Professores e a Organização de Escolas na Rede Municipal de São Paulo.

Certamente algumas dessas medidas emergenciais ajudam a reduzir o prejuízo para a aprendizagem. Porém a perda é inevitável. Mesmo que o diretor consiga fazer a substituição do docente, sempre haverá certo impacto no desempenho, já que esse profissional eventual tem menos tempo para planejar a aula e, em geral, desconhece as necessidades de aprendizagem de cada estudante.
Falta agendada
Foto: Marcos Rosa
Foto: Marcos Rosa
'Todo início de ano, peço aos professores que procurem resolver questões pessoais fora do horário de trabalho. Apesar disso, no primeiro semestre de 2009, deixamos de dar 566 horas-aula por faltas, o que equivale a deixar uma turma sem professor o semestre inteiro. Para mudar isso, estabeleci um limite de faltas por semana. Os professores avisam com antecedência quando têm a intenção de faltar, respeitando o limite de faltas por período. Nessas ocasiões, negocio a postergação da ausência e, quando a falta é inevitável, peço que deixem atividades programadas para o professor substituto trabalhar com a turma.'

Silvana Marques, diretora da EMEF Professor Fernando de Azevedo, em São Paulo, SP.
Melhor do que resolver a falta na última hora é trabalhar para reduzir as ausências. E algumas estratégias podem ajudar. Uma bastante comum em várias escolas é o agendamento de faltas. Consiste em combinar com os professores para que avisem com o máximo de antecedência quando precisam faltar. Silvana Marques, diretora da EMEF Professor Fernando de Azevedo, em São Paulo, adota essa estratégia (leia o depoimento acima). Outra maneira é negociar reposições. É o que faz a diretora Márcia Masiel na EEEM Itália, em Porto Alegre. Lá, quem falta tem de repor a aula no contraturno ou nos fins de semana (leia o depoimento abaixo).

Em casos mais graves, quando as faltas são constantes e sem justificativa, o gestor pode recorrer a instrumentos legais. Além de advertências e penalidades como suspensões, que são permitidas por algumas legislações locais, é possível entrar com um processo administrativo na Secretaria de Educação. Para isso, o diretor precisa recolher todos os registros que comprovem as faltas excessivas. Em última instância, um profissional pode ser exonerado. "Raramente isso acontece. Há carência de professores e dificilmente o diretor vai aplicar uma punição que aumentará esse déficit", acredita Silmar dos Santos.

Como se vê, o absenteísmo é complexo e envolve questões legais e administrativas também. No campo das políticas públicas, a criação de uma estrutura de prevenção em saúde, alterações na legislação e uma atuação fiscalizadora e de apoio das supervisões de ensino são medidas mais do que necessárias. Algumas redes já investiram em mudanças. A de São Paulo, por exemplo, adotou o estágio probatório de três anos, período em que o professor cumpre requisitos - entre eles a assiduidade - para conseguir a estabilidade. O bônus por desempenho dos alunos leva em conta também a frequência. "Para desenhar políticas consistentes contra o absenteísmo no Brasil, é preciso criar um banco de dados consolidado. Talvez o problema seja ainda maior do que se pensa", alerta a pesquisadora Priscilla Tavares.
Reposição obrigatória
Foto: Marcelo Curia
Foto: Marcelo Curia
'Em 2002, estabelecemos a reposição das faltas. Quando um professor se ausenta, outro assume a turma. Por exemplo, se falta o professor de Matemática, o de Geografia o substitui, continuando os conteúdos de sua disciplina. O que faltou tem de repor a aula perdida nos fins de semana ou em horários vagos no contraturno. Para conquistar esse empenho, mantenho o diálogo aberto e olho atentamente para cada profissional. Estimulo também a participação dos docentes nos eventos da escola e cobro a presença nas reuniões de planejamento e da Associação de Pais e Mestres. Com isso, reduzimos as faltas pela metade.'
Tão aconchegante quanto a nossa casa

Explore cada canto da sala de aula e adapte os móveis para tornar o ambiente mais alegre, dinâmico e organizado
1. Cantinho da ecologia
Plantas ficam muito bem na decoração da sala. Melhor ainda quando cultivadas pelos "moradores", os alunos. Exponha trabalhos de Ciências e de todas as séries, de pés de feijão a estufas de plantas carnívoras.

2. Aquário
Peixes e plantas aquáticas se desenvolvem bem em ambientes fechados e podem ensinar de forma divertida os fenômenos da vida animal e vegetal. A partir da 4ª série, a turma vai adorar ter um bicho de estimação na classe.

3. Feliz Aniversário!
Todos gostam de ser lembrados em seu aniversário. Para os pequenos, produza um cartaz bem colorido destacando a data de nascimento de cada um. Depois da 5a série, basta um aviso com os aniversariantes do mês.

4. Brinquedos
Brincadeiras infantis auxiliam na alfabetização das crianças. Por isso, bonecas, carrinhos e bichos de pelúcia são um ótimo complemento nas classes de Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental.

5. Sucata
Tampas de garrafa, caixas de fósforos e embalagens plásticas viram materiais didáticos que ajudam a desenvolver a criatividade das crianças até a 4a série.Mas cuidado: sucatário não é sinônimo de um monte de lixo.

6. Cartazes
Divulgue campanhas de sáude e de direitos humanos. Pôsteres de Ciências e assuntos diversos são ótimos materiais de conhecimento e conscientização de crianças e jovens. Promova debates sobre esses temas.

7. Painel
Os trabalhos realizados pela garotada não podem ficar trancados em armários ou esquecidos em pastas. Valorize o esforço de todos expondo cartazes e desenhos nas paredes da sala, tal qual obras de arte.

8. Leitura
Gibis, revistas e jornais devem fazer parte do cotidiano dos estudantes. Desperte o gosto pela leitura deixando sempre à mão um material variado e de interesse da turma. Essa, aliás, é uma dica que vale para todas as séries.

9. Música
É unanimidade: não há criança ou adolescente no mundo que não "curta um som". Monte um cantinho com revistas especializadas, partituras, letras e fotos de ídolos. Libere o rádio no recreio e nos horários livres.

10. Livros
Mantenha livros didáticos e paradidáticos sempre à disposição dos alunos para consulta. Almanaques, atlas e dicionários são ótimas fontes de pesquisa. Às vezes, dá uma preguiça ir até a biblioteca tirar uma dúvida....

11. Mapas
Eles não servem apenas para as aulas de Geografia, mas também de Matemática, Ciências e História. Não deixe que eles virem enfeites. Sempre que possível, coloque-os no chão ou na mesa com os alunos ao redor.

12. Boas-vindas
Quem não gosta de ser bem recebido depois de um tempo fora? Um sorriso no rosto, palavras de boas-vindas e cartazes com mensagens positivas coladas antes do primeiro dia de aula antecipam o bom astral para o resto do ano.

13. Carteiras
Tudo depende da aula: se for mais teórica, o ideal é colocar as carteiras na forma da letra U. No centro, o professor pode ser visto claramente por todos. Se quiser fazer um debate, disponha-as em fileiras frente a frente.

 O trabalho em equipe

Ok, você está pronto para discutir o projeto pedagógico e participar de todas as reuniões de planejamento. Já percebeu como todas essas tarefas envolvem outras pessoas? Esse é o terceiro ponto fundamental da história. Ninguém vai a lugar nenhum sem um bom entrosamento entre professores, direção, coordenadores, funcionários e pais. Não há mais espaço, na escola que queremos construir no século XXI, para o educador egoísta, que não troca informações permanentemente com os colegas.

O trabalho em conjunto começou a tomar forma no início dos anos 80 e chega a 2001 como uma importante ferramenta de melhoria do ensino. Chega de pensar nas salas isoladamente. A perspectiva certa é a do todo. "Trabalhar assim é ampliar a participação da coletividade", afirma Beatriz Hanff, professora de supervisão escolar do Centro de Educação da UFSC. Segundo ela, o modelo dominante ainda é o que está assentado numa prática individualista e fragmentada, "baseado em conteúdos preestabelecidos, com métodos de avaliação excludentes, e numa gestão que dispensa o trabalho em grupo". Mas nem tudo está perdido. Há bons exemplos, diz ela. Um deles é o da rede municipal de Porto Alegre, que conta com a consultoria da pesquisadora Elvira de Souza Lima.

Na capital gaúcha, foi criado o projeto Constituinte Escolar, que se tornou referência para dezenas de cidades.

"Procuramos fugir do conceito de que planejar é dar receitas",conta Ana Freitas, coordenadora pedagógica adjunta da Secretaria Municipal de Educação. "Ou seja, não estabelecemos tudo antes. Deixamos um espaço para resolver questões imprevistas. Para nós, a organização da escola tem a ver com o cuidado de não engessar o processo." O que dá uma importância ainda maior à equipe, que precisa estar coesa.

É o que ocorre na Escola Municipal Chico Mendes. Localizada na periferia de Porto Alegre, ela tem em suas classes filhos de trabalhadores de baixa renda. Periodicamente, os educadores fazem entrevistas com pais e moradores, que servem de inspiração para o planejamento — um jeito muito bom de tomar decisões em conjunto. Além das reuniões semanais de professores, existe um espaço fixo de discussão com os alunos chamado de "rodinha". Com isso, as famílias se sentem co-responsáveis — e os docentes retribuem com atividades ligadas à vida das crianças. Nas turmas iniciais, por exemplo, um dos trabalhos preferidos pelos pequenos é construir letras de argila para escrever os nomes de pessoas da comunidade que visitam a escola.

Em Blumenau, no interior de Santa Catarina, a rede municipal opera de forma semelhante. A aprendizagem é reforçada pela interação. Logo na entrada do pátio da Escola Básica Municipal Rodolfo Hollenweger, Marina, de 6 anos, Thiago, de 9, e Cíntia, de 14, modelam flores coloridas de papel crepom para enfeitar uma carroça e um cavalo. Vão fazer, juntos, um carro alegórico. Bem perto, outro grupo com gente de todos os tamanhos recorta retalhos coloridos, cola e costura bonequinhos de pano, batizados de Frida e Fritz. A experiência tem por objetivo integrar alunos e professores de diferentes ciclos (a cidade aboliu a classificação por séries). Os grupos são montados aleatoriamente, para que menores e maiores se ajudem, aprendam uns com os outros.

A reorganização das turmas é uma das situações de aprendizagem com inspiração sociointeracionista usadas como parte da proposta de trabalho por ciclos. Em Blumenau, eles são apenas três, nos quais as crianças são agrupadas por faixa de idade. Os conteúdos viram um meio para desenvolver competências, o que começa pelos próprios professores. Nesse dia, por exemplo, Nilto Lehmkuhl, professor de Matemática, teve de pensar numa atividade simultânea para estudantes dos 6 aos 14 anos. "Às vezes, tenho a impressão de que vou perder o fio da meada", diverte-se. A garotada adora. "Os pequenos reclamam um pouco, mas nós, maiores, sempre podemos ajudar", diz Karina Luisa David, de 13.

"No início, havia um temor de que os professores do 3º ciclo (12 e 14 anos) não soubessem lidar com os estudantes do 1º (6 a 8) ou de que os maiores se desentendessem com os menores", lembra a diretora, Lucimara Rodrigues da Silva. "As experiências vêm mostrando que o resultado é maravilhoso", comemora ela. O motor desses encontros é a possibilidade de proporcionar situações novas de aprendizagem, além de incentivar o trabalho em equipe. Na prática, eles servem para balançar os alicerces da formação rígida e segmentada dos docentes (só Ciências, Matemática ou Língua Portuguesa) e fazer com que as crianças se conheçam melhor.

O planejamento individual virou peça de museu em Blumenau e vários outros lugares retratados nesta reportagem. De olho no futuro, essas escolas já incorporaram conceitos como interdisciplinaridade, respeito às diferenças, gestão participativa e avaliação eficiente. "O professor precisa ver a importância de levar o aluno a querer aprender", completa Vitor Paro. "Perceber como é glorioso pegar um ser humano cru e elevá-lo culturalmente. Essa é a função do educador: passar o gosto pelo saber. E ninguém nasce com isso." Em resumo, o desafio que está colocado é buscar a melhor maneira de lidar com o conhecimento. Para ajudar a construir um mundo melhor.
Improvisação ao contrário - Entrevista com José Cerchi Fusari

José Cerchi Fusari, 56 anos, mestre em Filosofia Educacional e doutor em Didática, é um especialista na formação de professores em serviço. Nessa luta para melhorar a qualidade do profissional de educação, ele já deu cursos em quase todos os Estados do país e conhece, como poucos, as necessidades do nosso ensino.

NOVA ESCOLA > Qual é a importância do planejamento?
José Cerchi Fusari
- Para desenvolver o currículo e atingir o objetivo de promover a aprendizagem, é indispensável um bom planejamento. E digo que isso é o contrário da improvisação. No Magistério, a improvisação é importante e necessária, mas só pode ocorrer como exceção, não como regra. Em alguns casos, porém, a situação da escola é tão complicada que o planejamento não vinga.

NE - Como evitar o improviso?
Fusari - O planejamento deve ser uma tarefa permanente desde a formação inicial do professor, quando ele aprende a organizar o próprio trabalho. Existe uma condição técnica, que é a de dominar objetivos educacionais. O docente precisa ver o objetivo como um ponto de chegada e trabalhar a questão do conhecimento em função dele. Isso acontece quando se dá um novo significado tanto na formação inicial quanto na formação em serviço. O educador deixa de ser um mero executor e transforma-se em alguém capaz de dar sentido a seu trabalho.

NE - O professor está preparado para as mudanças?
Fusari - Se a formação inicial foi deficitária, provavelmente não. Mas não adianta ficar sentado em cima da má formação, se queixando e denunciando. O mais importante é que o professor precisa despertar para a importância de reivindicar o direito de melhorar, de ter um contrato de trabalho que garanta tanto seu momento de docência quanto o período de planejamento e avaliação. Isso posto, ele vai procurar recursos bibliográficos, recorrer aos cursos oferecidos pelas secretarias, fazer um curso de pós-graduação. Também é muito importante buscar a formação individual e coletiva dentro da própria escola.

NE - O aluno pode se dar por satisfeito com o ensino que lhe é oferecido?
Fusari - A escola brasileira está se estruturando. Foi democratizada na perspectiva da quantidade ao garantir o acesso a todos. O mesmo, no entanto, não ocorre com a qualidade. Nesse sentido, o planejamento é um instrumento de articulação muito importante entre quantidade e qualidade. É o meio para atender às necessidades de crianças, jovens e adultos que estão na escola e lá permanecerão durante anos. Isso dá ao planejamento uma dimensão política muito importante.
Os planos de ação para o novo ano
(reportagem de Nova Escola de fevereiro de 1998)

Esta é para você, diretor: com um pouco de organização e espírito de equipe, dá para transformar os tediosos rituais de início de ano em desafiantes momentos de aprendizagem

Imagine a seguinte cena: durante uma guerra, um grupo de adultos aceita o desafio de salvar a vida de centenas de crianças e jovens viajando com eles por alguns meses até chegar a um país seguro. A equipe tem à disposição veículos de transporte — em estado apenas razoável —, pequeno pessoal de apoio e o estritamente necessário para as despesas básicas. Em contrapartida, deve definir o roteiro a ser seguido, o ponto final da viagem e as alternativas para escapar dos perigos, a fim de que todos cheguem sãos e salvos a seu destino.

O primeiro encontro desses aventureiros é explosivo. Cada um sugere um país diferente como abrigo e apresenta boas razões para sua escolha. Quando porventura concordam com um local, apontam caminhos diferentes para atingi-lo. Por uma questão de ordem, uma ou duas pessoas assumem a liderança. Ajudam a negociar posições conflitantes e a chegar a consensos. No final das contas, o planejamento acaba sendo tão emocionante quanto a própria viagem.

Sentiu o clima? Ele é parecido com o de sua escola na semana que antecede o início das aulas? Então, parabéns! A equipe tem claro que, nessa época, começa uma nova aventura pedagógica, que exige entusiasmo e organização. Agora, se em sua experiência o planejamento das aulas é uma cópia fiel e improdutiva de antigas fórmulas, saiba que é possível ser diferente. Para isso, porém, a direção da escola precisa assumir a iniciativa e mobilizar professores e funcionários para que cooperem em ações coletivas, que melhorem a qualidade do ensino-aprendizagem. A seguir, algumas sugestões para quem está querendo inovar — ou simplesmente aprimorar — essa viagem a mais um ano letivo.
O testemunho de quem completou a viagem

Para incrementar o planejamento das aulas na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Dona Luíza Macuco, em Santos (SP), a diretora Maura Chezzi Dallan busca primeiro estimular professores e funcionários. Como? "Ouvindo suas necessidades numa reunião da qual todos participam", explica. O objetivo é saber o que funcionou ou não no ano anterior. Essa avaliação acaba por definir a missão da escola.

Maura explica uma das técnicas para integrar o grupo. "Distribuo folhas de papel em branco aos participantes", diz. Nelas, cada um faz uma reflexão por escrito respondendo à pergunta "Como estou me sentindo hoje?". As folhas são colocadas num envelope que só será aberto no ano seguinte, na época de planejamento. Nesse dia, cada um constata o que mudou em relação a suas expectativas. "Essa técnica ajuda a quebrar o gelo, facilitando o envolvimento do grupo", explica a diretora.

A partir daí, Maura procura criar consensos sobre novas metodologias, formas de avaliação, disciplina. No segundo dia de reunião, agora só com os professores, o grupo avalia o que deu certo ou não em cada disciplina. Então, na segunda semana de aula, todos os docentes fazem uma prova-diagnóstico com seus alunos e confrontam o resultado com o planejamento, revisto a cada bimestre. "Assim, não perdemos de vista que o plano de ação deve estar sempre de acordo com a realidade da classe", enfatiza a diretora.

Por Yara Malheiros
1. Bússola e relógio na bagagem
Comece preparando minuciosamente as reuniões que terá com sua equipe. Com a ajuda de auxiliares, desenhe um plano de ação realista, que leve em conta o tempo disponível para as discussões. Estabeleça, como objetivo, conseguir envolver a maior parte da escola no processo de planejamento que se inicia. Para tanto, estabeleça os seguintes pontos: Quais as etapas do processo? Que procedimentos serão usados em cada uma? Quais recursos materiais a equipe terá à disposição (cartazes, transparências, vídeos, livros, CD-ROMs, documentos, programas de computação)? Quanto tempo cada atividade irá demandar? Que indicadores concretos mostrarão a você que o objetivo foi atingido?

2. As estratégias de ação
Seria maravilhoso apenas dizer aos participantes "Integrem-se!", para que tudo saísse conforme o figurino. Mas, na prática, não é bem assim. Se quiser obter os resultados esperados, você precisa utilizar procedimentos que definam as regras do jogo e orientem as ações do grupo. Boas táticas criam condições para que os profissionais envolvidos aprendam uns com os outros e se sintam seguros o bastante para errar e aprender com os próprios erros. Em geral, esses procedimentos apresentam três características básicas. Veja.
Simplicidade. Seis etapas são mais que suficientes no seu plano de ação para o novo ano. Procedimentos muito complicados fazem com que os participantes se confundam e percam o interesse.
Objetividade. As técnicas precisam conduzir a algum resultado observável, como uma declaração, um pôster, um cartaz, um vídeo.
Transparência. Todo mundo deve perceber com clareza oque está acontecendo e pedir maiores explicações, se necessário.

3. Modelo para toda a equipe
Lembre-se: é seu papel convidar e até mesmo desafiar os professores a experimentar novas atitudes em relação aos alunos — e você deve ser capaz de demonstrá-las na prática. Se quiser, por exemplo, que professores e funcionários recebam calorosamente os estudantes no primeiro dia de aula, faça o mesmo com eles. Prepare uma acolhida entusiástica para sua equipe nessas reuniões de planejamento. Mostre o quanto você a valoriza. Preveja dinâmicas de integração. Crie um ambiente agradável, de respeito mútuo e confiança. Os professores certamente levarão essa atmosfera para a sala de aula.

4. Um passinho à frente, por favor!
A maior parte dos professores adoraria sentir-se parte de uma verdadeira equipe. Ao mesmo tempo, cada um deles poderia fazer uma lista com mil razões para explicar por que o trabalho coletivo na escola parece um sonho impossível: "sobrecarga", "falta de tempo", "dinheiro curto"... Tudo bem. Muitos professores realmente estão até aqui de trabalho, o tempo é precioso e, em educação, sempre há recursos a menos. Mas, exatamente por isso, colaborar é fundamental. Cooperação gera eficiência e, portanto, economiza tempo e dinheiro. Só tem um detalhe: boas intenções, apenas, não produzem opiniões compartilhadas. Você deve recorrer a estratégias que possibilitem o consenso. O primeiro passo é romper o isolamento. Em muitas escolas, os docentes mal conhecem os valores pedagógicos, educacionais e didáticos do vizinho de sala. Mostre a eles que, no grupo, há muitas diferenças sim — e isso é saudável. Mas também existem vários pontos em comum.

5. O mapa da mina
A partir dos resultados da avaliação do ano passado, situe a equipe em relação a temas como desempenho dos alunos, recuperação das dificuldades de aprendizagem, trabalho interdisciplinar, convivência, interação com a comunidade, orçamento, manutenção do prédio e dos equipamentos. O uso de gráficos e transparências poderá tornar sua exposição mais objetiva e dinâmica. Importante: enfatize os avanços e as realizações. As dificuldades devem ser apresentadas não como fracassos, mas como desafios a enfrentar.

6. Escola unida: a missão
Tendo como pano de fundo a realidade da escola e seus desafios, e considerando os valores comuns previamente identificados, os profissionais devem ser estimulados a explicitar, em uma declaração sintética, seus principais objetivos em relação aos alunos. E mais: devem ser capazes de dizer que intenções, valores e crenças nortearam a escolha desses objetivos, o que deve ser feito para atingi-los e quem poderá ajudar na caminhada (veja quadro à direita). Elaborar coletivamente a declaração da missão é essencial para que o grupo compreenda qual a razão de ser da escola. Quando direção, professores e funcionários têm clareza do propósito de seu trabalho e quando todos compartilham desse propósito, a escola conquista uma identidade, uma imagem que pode ser exibida e defendida diante da comunidade. Todos expressam o mesmo objetivo, a mesma atitude. A equipe, unida, pode visualizar o futuro desejado e as trilhas que levam a ele.

7. Estão todos de acordo?
A partir da declaração da missão elaborada em conjunto, faça uma lista das decisões que a equipe precisa tomar e procure garantir o máximo possível de consenso sobre elas. Mas não espere unanimidade. Concentre-se nas pessoas que estão dispostas a colaborar e por um momento deixe as demais em segundo plano. A cooperação, como qualquer fenômeno novo, só gradualmente poderá envolver a todos. Eis alguns pontos-chave na tomada de decisões.

• Se a equipe se convenceu, por exemplo, de que pouco adianta ensinar o aluno de forma mecânica, como ela pretende se capacitar para utilizar um outro tipo de metodologia?

• Para quê, como e quando deve-se avaliar os alunos e o próprio desempenho?

• Que regras de convivência o grupo concorda em demonstrar e passar adiante?

• Como devem ser as reuniões com os pais e as mães dos alunos

8. Vocês aqui, vocês acolá
Em vez de solicitar o preenchimento de uma série de formulários, estimule os professores de cada área a refletir sobre o que é essencial ensinar em suas disciplinas durante o ano. Nas reuniões por série, convide os docentes a decidir as atividades culturais, artísticas e esportivas que irão desenvolver de forma interdisciplinar. É o momento de pensar como integrar ao currículo os temas transversais que constam dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): meio ambiente, pluralidade cultural, orientação sexual, saúde e ética.

9. Enfim, a estréia
Junto com os professores e funcionários, organize uma recepção calorosa aos alunos no primeiro dia de aula. Programe a chegada deles por série, dando destaque especial aos calouros da quinta. Outras dicas oportunas você encontra na reportagem "O primeiro dia de aula é uma festa", nas páginas 10 e 11 desta edição.

Por Boudewijn van Velzen, sociólogo e coordenador de assuntos internacionais
do Centro Nacional pelo Aperfeiçoamento das Escolas, em Utrecht, na Holanda;
e Madza Ednir, assessora da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Um por todos...

Definir a missão da escola é o clímax do planejamento. Para evitar devaneios e perda de tempo em sua elaboração, o passo-a-passo a seguir pode servir como roteiro de trabalho.

• Forme pequenos grupos, com quatro a cinco elementos.

• Os grupos devem produzir um mote que expresse a essência do trabalho na escola. O mote deixará claro o que a equipe faz, de que forma e com que objetivo.

• Terminado o trabalho, cada grupo apresenta sua frase aos demais.

• Durante a apresentação, levante os temas comuns e os mais aprovados.

• Esses temas são palavras-chave que devem constar na elaboração da missão.
Lembretes
"Planejar o ano letivo pode ser tão interessante quanto planejar uma viagem."

"Mobilize a equipe, de forma a envolvê-la em todas as atividades de planejamento."

"Uma acolhida calorosa a funcionários e professores influenciará a recepção deles aos alunos"
"É melhor exercitar o diálogo nos dias de planejamento que ouvir discursos sobre a necessidade dos mesmo."
"A equipe deve ter bem claro o objetivo de seus esforços."

"Partindo do que a escola é agora, defina coletivamente como deverá ser seu futuro."

"Boas intenções não produzem consenso e cooperação. Boas estratégias, sim."

"Não espere unanimidade para deflagrar ações."

"Todos os funcionários, indistintamente, devem ser envolvidos na definição da missão da escola."

"Planejar é um processo que percorre o ano letivo do comço ao fim."

"O planejamento deve dizer respeito a ações concretas."

"Reflexão - verdadeira reflexão - produz ação." (Paulo Freire)



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